Destacando as Evidências: a história de amor entre o Lula e o crime organizado
Um panorama das evidências que ligam Lula ao crime organizado ao longo de sua carreira política.
Reportagem publicada em 02 de janeiro de 2023
Após o anúncio do resultado da votação do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, em que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi declarado vitorioso após receber 50,90% dos votos válidos, enquanto o seu adversário, Jair Messias Bolsonaro (PL), que buscava a reeleição, receber 49,10%, um clima de festa tomou as prisões de todo o país. Relatos feitos por funcionários do sistema prisional, realizados em anonimato por temerem represálias, narram um clima de “final de copa do mundo” e de festa entre os encarcerados.
Já na votação do primeiro turno a predileção de criminosos pelo candidato petista se traduziu em números: segundo levantamento feito pelo site O Antagonista, se as eleições ocorressem entre presos provisórios que puderam participar do processo eleitoral, Lula poderia ter sido eleito já no primeiro turno. Em seções destinadas ao voto de presos, Lula teve 80,59% dos votos válidos, contra 15,79% de Bolsonaro. Dados semelhantes aos de 2018, em que no segundo turno, Fernando Haddad (PT) venceu nos presídios com 82,4% dos votos, segundo levantamento do jornal O Globo.
Este caso de amor da bandidagem pela esquerda é recíproco, e se repete exaustivamente. Em 7 de agosto de 2015, Cynara Menezes, jornalista e editora do site Socialista Morena, comentou em uma rede social: "Polícia do RJ segrega jovens negros no caminho para a praia porque a burguesia da zona sul teve seu ‘celularzinho’ roubado". A fotografia apresentava um grupo de jovens, sem camiseta, sendo revistados por policiais ao lado de um ônibus, mas não indicava qual o contexto da abordagem policial.
Leonardo Sakamoto, colunista do UOL, em artigo de 16 de junho de 2012, defendeu que ostentar diante da pobreza deveria ser crime previsto no Código Penal. Para Sakamoto, se todos levassem uma vida mais simples, sem “carro ou sem relógio”, não precisariam temer uma cidade violenta como São Paulo. Há também o clássico episódio em que a filósofa e escritora Márcia Tiburi, ex-candidata ao governo do Rio de Janeiro, que em entrevista à TV Brasil, em 2015, afirmou ser favorável ao assalto por ver nele uma questão lógica.
Há ainda a defesa apaixonada da criminalidade feita pelo ativista do movimento negro e ex-colunista do jornal Folha de São Paulo, Anderson França, que em seu perfil no Facebook, propôs uma espécie de frente ampla reunindo a militância de esquerda e o Comando Vermelho: “Pense comigo que: A PM arrega pro crime [sic], mas bate em militante. Imagine o dia em que a militância fechar com o crime, APENAS PENSE [sic], a força do aço dos menino [sic], a disposição dos manifestante [sic]. CVRL e esquerda junto [sic]. Aliás, né? A História já conta. Eu fechava lindo nessa frente. LINDO [sic]”. Em 2018, França se auto exilou na Europa após supostas ameaças à sua vida recebidas pela internet.
Não apenas figuras consideradas da intelectualidade defenderam ações de criminosos. Há também diversas declarações, ainda mais esdrúxulas, feitas por políticos de esquerda. É o caso de Benedita da Silva, então deputada pelo PT, que em discurso na Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2014, defendeu criminosos justificando que estes praticavam apenas “pequenos furtos” – prontamente rebatida por Jair Bolsonaro, também deputado à época, sugerindo que Benedita “adotasse os criminosos” que defendia.
Seguindo a linha de tentar normalizar o roubo, a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), propôs, no ano passado, o Projeto de Lei PL 4540/2021 para alterar o Artigo 155 do Código Penal e criar as categorias de “furto por necessidade” e “furto insignificante”, ganhando destaque na mídia. O que não ganhou destaque, no entanto, foi a figura de “furto famélico”, já existente na doutrina jurídica, tratando exatamente de casos excepcionais como os propostos pelo PL da deputada.
Em 2017, o ex-presidente Lula minimizou o roubo de celulares e atribuiu a incidência de homicídios em Pernambuco à pobreza: “É uma coisa que está intimamente ligada. Ou seja, o cidadão teve acesso a um bem material, a uma casinha, a um emprego, e de repente o cara perde tudo. Então, vira uma indústria de roubar celular. Para que ele rouba celular? Para vender, para ganhar um dinheirinho. Eu penso que essa violência que está em Pernambuco é causada pela desesperança”. Não por acaso, um dia após ser solto da prisão, em 12 de novembro de 2019, durante sua primeira aparição pública, Lula voltou a falar sobre o roubo de celulares: “Eu não posso ver mais jovem de 14, 15 anos assaltando e sendo violentado, assassinado, pelo polícia, às vezes inocente ou às vezes porque roubou um celular”, não fazendo uma única menção às milhares de vítimas têm seus celulares roubados, muitas vezes fatais.
Em 2016, último ano de mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), ocorreram no Brasil mais de 62 mil homicídios. Segundo especialistas, este trágico número, que ultrapassou números de tragédias naturais, tal qual furacões, terremotos, e guerras — como a da Síria, que teve 60 mil mortes em 2016, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos —, não foi alcançado por acaso: o PT e a esquerda não só têm diversas ligações com o crime organizado, mas também o incentiva, direta ou indiretamente.
Bandidolatria
Segundo Diego Pessi, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, coautor do livro "Bandidolatria e Democídio”, (2018, SV Editora, 240 págs.) este comportamento que premia os delinquentes com benesses e ignora o sofrimento das vítimas, conhecido como “bandidolatria”, é devido a um surto de “anticivilização”, resultado de um “humanismo falso e hipócrita”. Para ele, este relativismo moral e esta descrença na necessidade e eficácia da punição, estão na gênese das doutrinas hegemônicas em segurança pública no Brasil.
No ano de 2017, de acordo com os dados oficiais do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS), registrou-se cerca de 65,6 mil homicídios, recorde da série histórica desde 1980 – o equivalente a uma taxa de 31,6 mortes para cada cem mil habitantes (vide gráfico). Já em 2018, houve uma redução de 10,8% no número de mortes violentas intencionais, 14,2% nos crimes contra o patrimônio e 20,2% nos roubos de carga. Pessi, analisando a mudança drástica nos números de homicídio no país, sugeriu algumas medidas implementadas pelo Estado brasileiro e seus entes federativos que podem explicar a queda no índice: operações de garantia da lei e da ordem; isolamento dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) em presídios federais; incremento do confisco de ativos das facções criminosas; recorde de apreensões de drogas; aprimoramento do controle das penitenciárias; intensificação da atuação dos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado; atuação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado e auxílio da Força Nacional de Segurança, que contribuíram para a redução das mortes violentas intencionais.
Pessi também sugere que haja um impacto da pandemia nestes índices mas, segundo ele, há um razoável consenso entre os estudiosos sérios de que a redução da criminalidade pressupõe, necessariamente, iniciativas que aumentem o esforço exigido para a perpetração do crime (policiamento proativo, vigilância, e capacidade de autodefesa) e também os riscos para o delinquente – evidenciando a importância da certeza da punição. Ele ainda ressalta a relevância na redução da recompensa pelo crime – pois criminosos atuam sob a lógica de custo/benefício –, bem como a de situações de risco para a vítima.
Já para Roberto Motta, especialista em segurança pública, consultor e ativista, escritor do livro “A construção da maldade” (2022, Avis Rara, 224 págs.), a destruição da segurança pública brasileira foi produzida ao longo dos anos pela inteligência petista esquerdista em frentes como cultura — com a ocupação de todos os meios de entretenimento e da grande mídia para criar a ideia de que a polícia é corrupta e opressora, de que o criminoso é um pobre coitado e que no Brasil se prende demais, que a guerra contra as drogas já foi perdida. Para ele, o mesmo discurso é disseminado dentro do sistema de ensino público e privado, ao longo de toda a formação do indivíduo, que acaba por assimilar essas ideias sem se dar conta. Motta ressalta também a criação de restrições cada vez maiores à atuação da polícia e ao aparelhamento das academias de polícia militar para doutrinação ideológica.
De acordo com Motta, esta militância “bandidólatra” pode ter atuado como “incentivo” à criminalidade, pois criaria um ambiente de incentivo para o criminoso. Segundo ele, o bandido brasileiro sabe que a sua chance de algum dia preso ou punido é pequena, que a punição é leve e há um grande número de artifícios para acusar os policiais e conseguir se livrar; além disso, ele sabe que a pena vai ser pequena e que tem o ampara ideológico da sociedade.
“O bandido brasileiro vê televisão, lê jornal, assiste às novelas como todos nós. Ele sabe que ser bandido hoje no Brasil não é só um bom negócio, mas é glamouroso, é charmoso e recebe o apoio de uma grande quantidade de políticos”, afirma Motta.
Segundo Motta, a união entre a esquerda e o crime culminou no fenômeno do surgimento das facções criminosas: no presídio da Ilha Grande, em 1979, Rio de Janeiro, nascia o Comando Vermelho, quando presos políticos de esquerda tiveram contato com presos comuns e ensinaram a estes táticas de organização, como assaltos a bancos e sequestros.
“A simbiose entre a extrema esquerda e o crime organizado é estratégica e operacional, não digo ideológica, porque os criminosos na sua grande maioria não têm ideologia. Por isso que não temos no Brasil o equivalente a uma FARC, porque os criminosos brasileiros têm desprezo pela ideologia, assim como os grandes ideólogos esquerdistas, o negócio deles é poder”, conclui.
Lula e as Farc
Durante um debate realizado em dezembro (8), no Insper, em São Paulo, o empresário Abilio Diniz, do Carrefour, declarou não estar preocupado com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 32/2022) da Transição, aprovada pelo Senado no dia anterior (7), permitindo que Lula exceda o Teto e gaste 168 bilhões de reais nos próximos dois anos. Diniz também afirmou estar esperançoso com que o país cresça 3% em 2023.
Anteriormente, em artigo publicado em sua coluna de opinião no site Poder 360, em 31 de outubro, dia seguinte à votação do segundo turno das eleições de 2022, Diniz afirmou que Lula poderia fazer um bom governo para o Brasil e que a primeira tarefa do petista deveria ser a de assumir uma posição de “pacificador” para unir novamente os brasileiros.
Aparentemente, Diniz esqueceu-se de que, em 1998, Lula intercedeu pela soltura dos militantes que foram presos pelo seu próprio sequestro, ocorrido em 1989. Além disso, durante o inquérito policial, foi descoberto que os sequestradores de Diniz tinham ligação com guerrilhas comunistas, como o chileno Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), que possuíam como estratégia de arrecadação de fundos o sequestro de grandes empresários da América Latina — prática ensinada no “Minimanual do Guerrilheiro Urbano”, publicado em 1969 por Carlos Marighella, terrorista romantizado recentemente no filme homônimo, de 2021, dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge.
Não suficiente, no cativeiro de Diniz, no bairro do Jabaquara, na zona sul de SP, local onde permaneceu durante seis dias, foram encontrados pela polícia, além de armas e munições, materiais de campanha do PT e de Lula, incluindo adesivos, camisetas e bandeiras.
Segundo o jornalista Leonardo Coutinho, escritor do livro “Hugo Chávez, o Espectro” (2018, Editora Vestígio, 240 págs.) — que em uma série de tuítes [aqui, aqui e aqui] esmiuçou a conexão do PT com narcoguerrilhas, antes de se retirar da plataforma por censura — Lula fez diversas outras intervenções em favor de guerrilheiros: o padre Francisco Antonio Cadena Collazos, conhecido como "Oliverio Medina" ou "Cura Camilo" representante das FARC no Brasil, era procurado na Colômbia por vários crimes, como sequestros, atentados terroristas e ataques que resultaram na morte de quase uma centena de pessoas; foi preso no Brasil em agosto de 2005. Enquanto os colombianos pediam pela extradição do criminoso, Lula concedeu a ele o status de asilado político. A condição permaneceu após decisão do STF, impedindo Camilo de ser extraditado para a Colômbia.
Segundo a reportagem “Laços explosivos”, publicada em março de 2005, na Revista Veja, documentos secretos da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) revelaram que, durante uma reunião entre esquerdistas solidários às Farc, ocorrida em abril de 2002, Cura Camilo anunciou que sua organização guerrilheira realizaria uma doação de 5 milhões de dólares para a campanha eleitoral de candidatos petistas – notícia recebida com aplausos pela plateia.
Caso parecido ocorreu com o ex-militante de esquerda italiano Cesare Battisti, que viveu no Brasil por mais de dez anos e se tornou alvo de um longo processo de extradição por conta de condenações por quatro assassinatos, cometidos entre 1977 e 1979, na Itália. Preso em 2007, Battisti recebeu status de refugiado político do então ministro da Justiça, Tarso Genro. Em dezembro de 2010, em sua última ação como presidente, Lula garantiu a permanência do italiano no Brasil dizendo que esta era uma era “questão de soberania nacional” — a Itália pressionava pela extradição e até ameaçava boicotar eventos esportivos realizados no Brasil. A decisão foi referendada no ano seguinte pelo STF, colocando Battisti em liberdade. Apenas em dezembro de 2018, durante o governo de Michel Temer, foi assinado o decreto de extradição de Batisti, um dia após a ordem de prisão expedida pelo ministro Luiz Fux do STF.
Os pugilistas cubanos Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux não tiveram a mesma sorte, em 2009: durante os Jogos Panamericanos do Rio, após fugirem da delegação cubana, foram presos e deportados para Cuba, a “ilha-prisão de Fidel”. Segundo Coutinho, depois de atuar como uma extensão dos braços da ditadura cubana, o governo Lula disse que se "equivocou” em sua decisão.
Além dos episódios de ajuda a guerrilheiros das Farc protagonizados pelo ex-presidente, o Foro de São Paulo, agremiação fundada por Lula e Fidel Castro em 1990, possui ligações com outra organização terrorista: o Hezbollah, sediado no Líbano. Enquanto esteve no governo, o mesmo PT que soltou nota em protesto pela morte do general Soleimani, após um ataque aéreo dos Estados Unidos ao aeroporto de Bagdá, no Iraque, era abertamente contra a designação do Hezbollah como organização terrorista.
O Hezbollah era um dos tentáculos armados comandados por Soleimani. Já em 2012, o secretário de relações exteriores do Hezbollah, Ammar al-Mousawi, esteve em Cuba para um evento do Foro de São Paulo.
O guerrilheiro de esquerda professor do PCC
A intercessão de Lula a favor de integrantes de guerrilhas não parou por aí. Em 2004, o petista também interferiu em favor de um outro sequestrador, o chileno Mauricio Hernández Norambuena, militante da Frente Patriótica Manoel Rodrigues (FPMR) que, dois anos antes, sequestrou o publicitário Washington Olivetto. Em seus país, o chileno já havia sido sentenciado duas vezes à prisão perpétua pelo assassinato de um senador e por sequestro.
De acordo com Leonardo Coutinho, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a extradição de Norambuena, mas Lula vetou, pois não acreditava que os chilenos iriam substituir a pena perpétua pela máxima de 30 anos, prevista no Brasil. Para Coutinho, apesar de legalmente bem amparada, a decisão exigiu um esforço incomum.
Norambuena desempenhou um papel fundamental na evolução do Primeiro Comando da Capital (PCC): foi companheiro de cela de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, um assaltante de bancos conhecido por ser uma das maiores lideranças dentro do PCC, título que ele nega. “O intercâmbio coincide com o salto que a gangue de presídio deu rumo ao que é hoje. Foi o casamento da esquerda armada com o crime organizado”, escreveu Coutinho.
Ainda segundo o jornalista, em artigo publicado em maio de 2019, no Estado da Arte, apenas um mês após a união de Marcola e Norambuena, em 7 de março de 2002, o PCC tentou realizar o seu primeiro atentado terrorista, em São Paulo. Um automóvel carregado com 40 quilos de explosivos do tipo powergel (emulsão) foi estacionado em frente ao Fórum da Barra Funda, onde trabalhavam 5 mil pessoas e outras 7 mil frequentavam diariamente. O ataque só não foi concretizado devido a uma falha no dispositivo.
Sabotagem de eleições em favor do PT
Segundo Coutinho, o objetivo do PCC era criar terror e desestabilizar o processo eleitoral que estava em curso: interceptações feitas pela polícia de conversas telefônicas entre membros do PCC — conteúdo só revelado ao público quatro anos mais tarde —, realizadas por meio de celulares inseridos irregularmente no interior das prisões, revelaram a emissão de ordens para que o PCC atuasse de forma a intervir na eleição para governador no Estado de São Paulo.
Assim, do interior da prisão, os líderes do PCC determinaram uma série de incidentes que levaram ao descrédito do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que buscava a reeleição. Ainda segundo os áudios, um dos chefes do grupo enviou ordens para que todos os familiares dos presos votassem no candidato de esquerda escolhido e determinado por eles. E para garantir uma maior participação nas urnas no dia da votação, foi determinado que nenhum familiar faria visita naquele dia para que pudesse votar no candidato pertencente ao Partido dos Trabalhadores (PT), escolhido pela facção.
De acordo com Coutinho, o esforço parece ter sido recompensado e o ex-guerrilheiro José Genoino (PT) – que posteriormente foi condenado a 6 anos de prisão por envolvimento no escândalo do Mensalão – conseguiu chegar ao segundo turno da eleição de 2002, para o governo de São Paulo. Durante esta campanha o PCC chegou a planejar um ataque a bomba ao edifício da bolsa de valores paulistana, mas a ação foi desarticulada após escutas telefônicas interceptadas pela polícia.
No ano eleitoral de 2006, especulava-se que o então presidente Lula não conseguiria se reeleger por conta de acusações e investigações do Mensalão. Nessa época, o PCC voltou a atacar: ao invés de utilizar a tática de executar um grande atentado, como os que foram planejados anteriormente, a facção optou por realizar uma série de ações que se tornaram a maior onda de violência promovida pela organização criminosa. Em apenas nove dias, o PCC fez 293 ataques, que variavam entre explosão de distritos policiais, prédios residenciais e ônibus incendiados; trazendo o caos para a maior cidade da América Latina, deixando 564 mortos e 110 feridos.
Os ataques só tiveram fim após uma negociação secreta entre o Governo de São Paulo — que havia sido assumido por Cláudio Lembo (PSDB) após Alckmin se afastar para disputar a presidência — e a facção. Informações e termos completos do tal acordo jamais foram divulgados para o grande público, porém, após Marcola receber na prisão uma comissão formada por membros do alto-nível do governo paulista, o criminoso emitiu uma ordem para que seus seguidores cessassem a onda de terror na capital. Com isso, Marcola conseguiu o que sempre quis: a voz do estado tendo interlocução direta com o PCC.
Em 2015, uma reportagem do jornal "O Estado" trouxe a declaração do delegado Luiz Ramos Cavalcanti, no âmbito de um processo judicial que investigava advogados supostamente ligados ao crime organizado, afirmando que o governo paulista fez sim um acordo com a facção criminosa para encerrar ataques contra policiais em 2006. Ele mesmo teria participado deste encontro, ocorrido dentro do presídio de segurança máxima Presidente Bernardes. O então secretário da Segurança Pública do estado, Alexandre de Moraes, negou qualquer negociação do governo com criminosos.
No mesmo ano, Alexandre de Moraes se viu novamente envolvido em ligações com o PCC, mas do “outro lado da linha”: durante anos foi advogado da Transcooper, uma antiga cooperativa de vans, citada em 2014 em uma investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que apurou o possível envolvimento de dois dos seus sócios em um esquema de lavagem de dinheiro do PCC. No mesmo ano, a Polícia Civil de São Paulo apontou em relatório uma suposta ligação da Transcooper com um traficante do PCC.
Foi divulgado pela imprensa que o então secretário defendia a cooperativa em 123 processos. Apesar dos indícios, Moraes afirmou, em nota, que “não houve qualquer prestação de serviços advocatícios — nem pelo secretário, nem pelos demais sócios — às pessoas citadas em possível envolvimento com o crime organizado, em 2014. O contrato, disse, se referia estritamente à pessoa jurídica da cooperativa”.
Acusações de que Moraes teria ligações com a facção foram intensamente utilizadas pelos seus adversários políticos por anos: após sua indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF), na sabatina no Senado, o PT liderou forte pressão para que o atual ministro não chegasse ao cargo e chegou a publicar no site de sua agência de notícias um texto associando o então ministro da Justiça de Michel Temer com o PCC, algo que só foi apagado recentemente de seu site. Bolsonaristas também têm feito esta associação ao longo dos anos, como Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, que foi condenado a pagar R$ 50 mil de indenização a Moraes por tê-lo chamado de “Xandão do PCC”.
Mais coincidências
Em agosto de 2019, a Polícia Federal deflagrou a Operação Cravada para investigar e desmantelar o núcleo financeiro do PCC que agia de dentro de presídios do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Nos relatórios da PF, constava uma escuta telefônica flagrando Alexsandro Pereira, conhecido como “Elias” ou “Veio”, reclamando da atuação de Sérgio Moro, então Ministro da Justiça, que determinou a transferência dos líderes da facção criminosa, presos na Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.
Segundo a transcrição da PF, Elias diz: “Os caras tão no começo do mandato dos cara. Já mexendo diretamente com a cúpula, irmão. Então, se os cara começou mexendo com quem estava na linha de frente, os caras já entrou falando o quê? ‘Com nois já não tem diálogo, não, mano’. Esse Moro aí, esse cara é um filha da puta, mano. Ele começou a atrasar quando foi pra cima do PT. Pra você ver, o PT tinha diálogo com nois cabuloso, mano, porque… situação que nem dá pra nois ficar conversado a caminhada aqui pelo telefone, mano”.
A divulgação do grampo repercutiu negativamente contra o PT que, na sequência, soltou uma nota de repúdio alegando que esta era mais uma “de tantas outras armações forjadas contra o partido”. Ainda segundo a nota, quem deveria se explicar à justiça seria Moro por ter “montado uma farsa judicial contra o ex-presidente Lula com delações mentirosas e sem provas”.
Em meio a toda controvérsia e especulações sobre a ligação entre o PT e o PCC, surgiram diversas notas de repúdio do PCC negando relações com o PT, obviamente com intuito humorístico. Curiosamente, a grande mídia, na figura de suas agências de checagem, correram para desmentir esses textos apócrifos e não demonstraram muito interesse em investigar o que havia de relevante no episódio para descobrir a real extensão do diálogo cabuloso revelado pela PF.
Alckmin também teve um episódio, no mínimo inusitado, envolvendo o PCC. Em agosto de 2018, um vídeo da sua campanha presidencial televisiva veiculou uma mensagem com alusão à facção criminosa: a peça apresentava uma viela de uma favela e, ao fundo, uma parede pintada com a bandeira do Brasil com “1533” no lugar do lema “Ordem e Progresso”. O número é utilizado pelo PCC como referência à própria sigla da facção conforme a posição em que as letras aparecem no alfabeto: “P” é a 15ª e “C” é a 3ª.
Apesar do vídeo ter sido diretamente distribuído via WhatsApp por sua própria assessoria, a campanha de Alckmin divulgou uma nota oficial desmentindo o episódio e acusando os “mentirosos de plantão” de usarem “uma versão não oficial do clipe, que vazou na internet, e a editaram para inserir imagens em alusão ao crime organizado”. Posteriormente, a equipe de Alckmin disponibilizou uma nova versão do clipe, praticamente idêntica à primeira, usando apenas um truque de edição aos oito segundos para mudar o enquadramento e esconder a referência ao PCC.
O amor vence as diferenças
Embora a criminalidade tenha reduzido em São Paulo durante os mandatos de Geraldo Alckmin, foi justamente durante este período em que o PCC floresceu no estado e espalhou os seus ramos por todo o país. Embora Alckmin tenha declarado em dezembro de 2017, ao assumir presidência do PSDB, que Lula, ao querer retornar ao poder, queria “voltar à cena do crime”, cinco anos depois, o agora ex-tucano, anuncia que seria vice na chapa com Lula.
Chapa esta que só foi levada a cabo graças a soltura de Lula da prisão, após as suas condenações na Operação Lava Jato serem anuladas pelo STF, que também permitiu que este concorresse às eleições como se tivesse a ficha limpa. Já durante o pleito de 2022, no dia da votação do primeiro turno, o ministro Alexandre de Moraes, atuando como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), censurou reportagens e publicações nas redes sociais sobre um suposto apoio de Marcola a Lula.
O criminoso teria dito: “Se colocar um do lado do outro, o Lula é melhor que ele [Bolsonaro] para nós”; “Todo mundo sabe que o Lula é ladrão. Tem que sair fora mesmo desse arrombado aí [Bolsonaro]. Ele e os filhos dele”; e “Bolsonaro é parceiro da política, da milícia. Cara é sem futuro. O Lula também é sem futuro, só que entre os dois, não dá nem para comparar um com o outro”
A censura que atingiu os sites O Antagonista, Jornal da Cidade On-Line, a rádio Panamericana S.A., ligada ao grupo Jovem Pan, e Terra Brasil Notícias, incluía também menções ao caso Celso Daniel, ex-Prefeito de Santo André, encontrado morto no dia 18 de janeiro de 2002, em Juquitiba, na Região Metropolitana de São Paulo, dois dias após ser sequestrado. Uma das hipóteses para o crime é que Daniel teria descoberto desvios dentro do suposto esquema (que ele comandava para fazer caixa para o PT) de propinas e achaques a empresários de ônibus do município de Santo André. Esse sistema teria servido, inclusive, de “teste piloto” para o Mensalão e o Petrolão, segundo investigação do jornalista Silvio Navarro que em seu livro Celso Daniel: Política, corrupção e morte no coração do PT (2016, Record, 238 págs.) conta as relações entre a corrupção, a política e a economia, e oferece uma visão detalhada sobre como esses fatores contribuíram para o assassinato de Daniel.
A Senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) é filha de uma das vítimas do esquema e foi vice na chapa de Simone Tebet (MDB), que apoiou Lula no segundo turno. Na decisão, Alexandre de Moraes determinou também o pagamento de multa no valor de R$100 mil reais em caso de descumprimento e multa de R$15 mil em caso de novo compartilhamento desse mesmo conteúdo.
No dia 12 de dezembro Lula foi diplomado presidente do Brasil. Após conduzir o presidente eleito e o vice ao plenário do TSE, a pedido do ministro Moraes, Benedito Gonçalves, ministro do TSE, dirigiu-se ao presidente da Corte e cochichou em seu ouvido: “Missão dada é missão cumprida”, que foi captado pelos microfones durante a transmissão oficial e que pode ser ouvido (aos 29min20s) no canal oficial da Justiça Eleitoral. Gonçalves já havia protagonizado outro episódio polêmico envolvendo Lula: durante a festa de posse do Ministro Alexandre de Moraes como Presidente do TSE, Lula e Gonçalves trocam cumprimentos efusivos, com direito a seis tapinhas de Lula no rosto do Ministro. O vídeo viralizou após Benito Gonçalves acatar um pedido do PT e proibir que Bolsonaro usasse imagens do Sete de Setembro em sua campanha.
Para comemorar a diplomação – e completar o escárnio que foi todo o processo eleitoral de 2022 –, uma festa foi realizada na residência do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, em Brasília. Organizado pela futura primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, o evento foi regado a vinho, cerveja e espumante, além de diversas opções de pratos principais como bacalhau e filé mignon, e embalado por samba e pagode. Alexandre de Moraes e outros ministros do STF compareceram à festa, além de outros integrantes da cúpula do Judiciário e parlamentares, que já foram ou estão sendo investigados pela PF e pelo STF por corrupção, como Renan Calheiros (MDB-AL), Fernando Haddad (Fazenda), Eduardo Braga (MDB-AL), Aloizio Mercadante (BNDES), além do próprio Lula.
Segundo o relato de convidados da festa, Janja disse uma curta, mas acalorada fala: "Quero manifestar a minha imensa gratidão a duas pessoas aqui presentes, por tudo o que fizeram pela democracia: os ministros Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes".
O ato final
Em 2017, Lula foi condenado a nove anos e seis meses de prisão, em um processo envolvendo a compra e reforma de um triplex em São Paulo por parte da empreiteira OAS, em troca de favores na Petrobras. A condenação foi mantida em 2018 pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e a pena foi aumentada por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em abril de 2018, o STF rejeitou seu pedido de habeas corpus e o juiz Sergio Moro determinou sua prisão. Lula ficou preso por um ano e sete meses em Curitiba por causa de uma condenação na Operação Lava Jato.
Após quase sete anos rejeitando apelações da defesa e confirmando a competência do TRF4 no caso do triplex – além dos inquéritos do sítio de Atibaia e o das doações ao Instituto Lula –, o STF muda seu entendimento em abril de 2021, declara a incompetência da Justiça Federal do Paraná, anula as ações penais, determina que o processo seja reiniciado na primeira instância e julgado pela Justiça Federal do Distrito Federal. Lula, então com 75 anos, não só foi posto em liberdade e considerado ficha limpa – e portanto apto a concorrer nas eleições de 2022 –, mas também teve os processos prescritos em decorrência de sua idade, deixando-o livre de todos os crimes pelos quais havia sido julgado e condenado nos processos da Lava Jato.
Assim, neste domingo (1), Lula subiu pela terceira vez a rampa do Palácio do Planalto para assumir a Presidência da República, dois mil dias após a sua condenação na Lava Jato. Oito pessoas da sociedade civil, responsáveis pela entrega da faixa presidencial, acompanharam Lula enquanto ele caminhava até o palanque. Durante o discurso, Lula disse que a ninguém interessa um país que esteja permanentemente em pé de guerra. E esta seria a mesma intenção da Suprema Corte, conforme revelado pela colunista do UOL Carolina Brígido: "Com a vitória de Lula, ministros do STF apostam no fim da guerra com o Planalto e enxergam agora um caminho para a reconstrução de pontes entre o Palácio do Planalto e o STF. Com Bolsonaro derrotado, a expectativa é de um clima mais favorável para reatar os laços institucionais entre os Poderes e reconstruir a credibilidade do Judiciário”.
Marcola se encontra na Penitenciária Federal de Porto Velho, capital de Rondônia, unidade de segurança máxima para onde foi transferido no início de março e onde segue cumprindo pena. Por enquanto.